Seja finalmente livre, Kshamenk.
Kshamenk é o nome dado a esta baleia orca macho, capturada pelo parque aquático argentino Mundo Marino quando era um filhote de apenas 5 anos de idade.
Quando criança, foi sequestrado e aprisionado em um tanque de concreto quase do comprimento de seu corpo. Ele completava 500 voltas por dia nesse tanque. Fez isso durante 35 anos. O sofrimento que leva um individuo consciente a viver dessa forma é inimaginável.
Um ser inteligente, sensível e capaz, confinado em um cubículo com a autorização do poder público da Argentina e a chancela moral da sociedade, que financiou o parque, levando crianças humanas para se divertir com a tortura de um animal inocente.
Kshamenk era livre, membro de um família amorosa, com uma vida inteira pela frente. Tinha uma missão importante no bioma onde nasceu, não estava à toa no oceano, sua presença na baía onde vivia era de crucial importância ecológica. Ainda que assim não fosse.
Ainda que Kshamenk não tivesse nenhuma importância ecológica, sua vida não estava a serviço de seres humanos, era um ser de vida autônoma, nasceu livre e assim deveria permanecer até o fim de seus dias.
O Mundo Marino precisou mentir, criar uma história romântica de que a orca fora resgatada de um processo de encalhe e eles, Mundo Marino, piedosamente, salvaram o filhote. Os responsáveis sabem que, se contassem a historia real, muitos dos visitantes ficariam horrorizados e isso não seria nada lucrativo.
Mas, é curioso que o mesmo parque que se compadeceu do filhote encalhado, tenha aprisionado esse ser em um tanque minúsculo, usando seu corpo e sua alma para lucrar muito dinheiro. Nesses 35 anos, o Mundo Marino faturou muito em cima da solidão de Kshamenk.
Nesses trinta e cinco anos, os tratadores assistiram, diariamente, a revolta da baleia, que se recusava a manter laços de afeto com qualquer humano.
(E aqui, abre-se um parênteses para observar que, se faz necessária uma dose extra de sadismo para testemunhar trinta e cinco anos de tormento diário e não se sensibilizar. São criaturas com esse baixo nível intelectual e espiritual os responsáveis por parques aquáticos e zoológicos. As vítimas, portanto, acabam sob o controle de criaturas com níveis absolutamente precários de inteligência e esse é um fato estarrecedor, mostra o nível de desamparo desses animais, totalmente à mercê de seres sem alma.)
Kshamenk, ao contrário de seus opressores, foi um ser de sofisticado nível de inteligência e, sendo assim, jamais sucumbiu.
Por óbvio que tal comportamento não tocou os corações primitivos dos tratadores, nem dos diretores do parque, seres brutos que são. Para tais criaturas, cuja natureza se resume a apenas covardia e alienação, Kshamenk era um escravo, um objeto, um brinquedo lucrativo. Apenas isso. E não é de surpreender, posto que, no mundo criado por seres sem capacidade espiritual, a desconexão, a ausência de empatia, a prisão e o sofrimento são a base formadora de tudo. É natural, portanto, que aquele que não dispõe de meios de defesa, seja massacrado.
Mas, a escravidão não tem o poder de mudar a realidade dos fatos. Kshamenk não é um escravo, ele foi escravizado, foi trazido à força para um mundo alienígena, e, neste mundo, preso em tanque de concreto, mas isso não tirou dele a sua identidade nem sua alma.
Kshamenk foi uma baleia orca com todas as suas capacidades e potenciais até o fim de sua vida.
Assim como todos os animais que aqui vivem, foi a expressão do amor à Terra, um representante dos mares, uma lição de vida. Assim como todos os animais, Kshamenk é um tapa na cara dos seres humanos por nunca ter se desconectado de sua essência, ele permaneceu fiel à Natureza até o fim. Infelizmente, a liberdade com que tanto sonhou agora se concretiza em outro plano.
Que ele reencontre os seus em um mundo sem a interferência nefasta da sociedade de consumo criada por esta que é a mais primitiva dentre todas as espécies do planeta.
E sua história precisa servir como um lição para todos nós, que fazemos parte do mundo humano. Que os parques aquáticos e zoológicos comecem a ser banidos no planeta Terra por falta de visitantes.
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